A informalidade do estilo Bolsonaro: Igreja, barbearia e Twitter


Na primeira semana após o segundo turno, a informalidade chamou atenção no estilo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, em uma estratégia de proximidade com a população. O uso do Twitter e de uma prancha de bodyboard para equilibrar microfones em uma coletiva de imprensa contrasta com a formalidade do atual chefe do Executivo, Michel Temer, conhecido pelas mesóclises.
O tom de improviso é alinhado com outro elemento de popularidade: a religião. Logo após o resultado das urnas, no último domingo (28), Bolsonaro passou a palavra para o senador Magno Malta (PR-ES) no primeiro pronunciamento para emissoras de televisão. O pastor evangélico fez um discurso enfático em que disse que "os tentáculos da esquerda jamais seriam arrancados sem as mãos de Deus", seguido por uma oração.
Além do discurso, a religiosidade foi destaque na agenda do capitão da reserva. Neste domingo (4), ele acompanhou pela manhã um culto na Igreja Batista Atitude na Barra da Tijuca, bairro nobre na Zona Oeste no Rio de Janeiro.
Em seu discurso, atribuiu a Deus sua eleição, ajoelhou, rezou e posou para fotos com o pastor Josué Valandro Jr. "Lá trás, há quatro anos, quando eu decidi disputar a Presidência, sem recursos, sem partido, em tempo de televisão, com grande parte da mídia contrária às nossas propostas, mas, se isso aconteceu no último domingo, só tem uma explicação: Foi Deus quem decidiu", disse.
Ao lado da esposa, Michelle Bolsonaro, o presidente eleito também agradeceu por ter sobrevivido ao atentado à faca em 6 de setembro.
A conduta foi similar à que teve no último sábado (3), no programa do pastor Silas Malafaia, exibido na TV Bandeirantes.
Na última terça-feira (30), a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no Rio de Janeiro, cujo presidente é o pastor Silas Malafaia, foi o local onde Bolsonaro fez o primeiro discurso fora das redes sociais após eleito. O pastor que atuou em favor do deputado ao longo da campanha celebrou seu casamento em 2013.
O aceno aos evangélicos, grupo formado por 22 milhões de eleitores onde teve 70% de apoio, segundo projeção do Datafolha, também envolveu questões diplomáticas.
O presidente, que apesar de ter sido batizado nas águas do rio Jordão em 2016, é católico, anunciou nesta semana que irá mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. A comunidade evangélica apoia o Estado de Israel.
O Estado judeu considera toda a cidade como sua capital, enquanto os palestinos desejam tornar Jerusalém Oriental a capital do seu futuro Estado. Por esse motivo, a medida anunciada é inédita na diplomacia brasileira e vai na contramão da maioria dos países.

Bolsonaro, Twitter e Trump

Além do apoio evangélico, o anúncio remete a duas outras características do estilo Bolsonaro: o anúncio foi feito pelo Twitter e a mesma medida foi tomada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2016.
Foi pelas redes sociais que o capitão da reserva contou que recebeu uma ligação do chefe do Executivo americano após sua vitória no domingo. Ele também retuitou a publicação de Trump, conhecido pelo uso do Twitter.
Recebemos há pouco ligação do Presidente dos EUA, @realDonaldTrump nos parabenizando por esta eleição histórica! Manifestamos o desejo de aproximar ainda mais estas duas grande nações e avançarmos no caminho da liberdade e da prosperidade!
Bolsonaro usou o mesmo recurso para anunciar cumprimentos do primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, do presidente da Rússia, Vladimir Putin, além de chefes de Estado da França, Colômbia, Chile, Espanha e Peru.
Foi também pelo Twitter que o novo presidente disse que informaria o nome de seus ministros, após anunciar o tenente-coronel e astronauta Marcos Pontes como titular do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Nossos ministérios não serão compostos por condenados por corrupção, como foram nos últimos governos. Anunciarei os nomes oficialmente em minhas redes. Qualquer informação além é mera especulação maldosa e sem credibilidade.

Bolsonaro x imprensa

A mesma estratégia foi usada para rebater notícias publicadas na imprensa sobre futuras medidas de seu governo. Logo após a publicação de uma reportagem do jornal O Globo sobre a volta da CPMF, Bolsonaro desautorizou informações prestadas por sua equipe.
Desautorizo informações prestadas junto a mídia por qualquer grupo intitulado “equipe de Bolsonaro” especulando sobre os mais variados assuntos, tais como CPMF, previdência, etc.
Ao longo da campanha, o então candidato fez reiteradas críticas à imprensa e, após eleito, disse que cortaria a propaganda oficial do governo do jornal Folha de S. Paulo.
Na primeira coletiva de imprensa após o segundo turno, jornais impressos como Folha, Globo e Estado de São Paulo foram barrados, além da rádio CBN e da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), responsável pela comunicação pública no País.
Questionado sobre a restrição, Bolsonaro comparou empresas de jornalismo às redes sociais. "A imprensa está muito diversificada, eu cheguei aqui graças às mídias sociais. Quem vai fazer a seleção de qual imprensa vai sobreviver ou não é a própria população", disse.
O parlamentar também se isentou da decisão de barrar jornalistas. "Ah, não sei. Quem marcou isso aí não fui eu, tá ok? Eu tenho consideração com vocês, eu não mandei restringir ninguém não", completou.

Bodyboard, leite condensado e fita adesiva

O episódio da coletiva também chamou atenção pela informalidade. Os microfones das emissoras de televisão ficaram apoiados em uma prancha de bodyboard verde e azul, improvisada sobre duas mesas de vidro.
O improviso também foi marca do vídeo exibido em sua página do Facebook após a vitória no domingo com uma fita adesiva de cor cinza segurando a bandeira do Brasil ao fundo. Nos últimos dias da campanha, o cenário chegou a enfrentar problemas técnicos em outra transmissão.
Outra imagem que marcou os últimos dias de campanha foi o café da manhã em que o então candidato aparece comendo pão francês com leite condensado, sem prato. A foto virou meme e dividiu opiniões entre os que aprovaram o estilo "gente como a gente" e os que criticaram os modos de Bolsonaro à mesa.

Nesta semana, outra ação do estilo popular foi a divulgação da foto cortando o cabelo, de chinelo, na garagem de sua casa, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, no feriado na última sexta-feira (2), com o cabeleireiro Maxwell Gerbatim.

No dia seguinte, Bolsonaro fez um novo corte, dessa vez no bairro de Bento Ribeiro, a 30 quilômetros de sua casa. De acordo com cabeleireiro Antônio Oliveira, que mantém o salão desde 1970, o capitão da reserva frequenta o estabelecimento há 26 anos.

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