IDOSA É ENCONTRADA EM CÁRCERE PRIVADO E EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À ESCRAVIDÃO


Rosenildes dos Prazeres Parga, amiga da família, com Maria das Graças Foto: Arquivo pessoal

A idosa Maria das Graças de Sousa Rodrigues, de 75 anos, resgatada de uma casa na Zona Oeste do Rio onde, segundo a polícia, vivia em cárcere privado e condições análogas à escravidão, será levada a um consultório médico nesta quinta-feira. No local, ela passará por um check-up completo, para avaliar as condições de sua saúde.

Desde que foi resgatada, Maria vem ficando com uma amiga da família em Pilares, na Zona Norte da cidade. Como a idosa não tinha sequer pertences, Rosenildes dos Prazeres Parga emprestou roupas da filha à hóspede. Elas aguardam, agora, que parentes que vivem no Maranhão venham buscar Maria das Graças - ela havia perdido contato com a família há mais de 30 anos.

Nesta quarta-feira, a Justiça do Rio negou um pedido de liberdade feito pela defesa da proprietária da casa em que Maria foi encontrada. Na decisão, a juíza Rachel Assad da Cunha , da 14ª Vara Criminal do Rio, acabou convertendo em preventiva a prisão em flagrante de Therezinha da Silva Moraes, de 82 anos. Por ter mais de 80 anos, a acusada poderia pleitear prisão domiciliar, mas a magistrada entendeu que os advogados não comprovaram problemas de saúde que justificassem a adoção da medida.

Benefício sumido

Numa consulta feita ao portal do INSS, na internet, a enfermeira Raquel Rodrigues de Castro Belfort, de 46 anos, sobrinha da idosa que mora no Maranhão, descobriu que a tia se aposentou em 2007, e o benefíciio foi pago até 2017, estando cancelado no momento. Ela acredita que isso tenha ocorrido em função da ausência da prova de vida, que deve ser feita anualmente. Raquel, que pretende vir ao Rio no começo da próxima semana para buscar a tia, não quer que a situação fique impune, em função da idade avançada da acusada.


— Isso não pode ficar impune para evitar que outras pessoas passem pelo que passamos. É horrível uma pessoa com família viver assim em condições subumanas. Quero também os direitos trabalhistas da minha tia. Ela foi escravizada. Ninguém pode dispor assim da vida de outra pessoa. Quero transformar nossa dor e sofrimento em luta. A gente não pode ficar omissa. Quero incentivar pessoas que passam por situação parecida, porque omissão mata — disse.

Maria das Graças deixou o Maranhão em 1969, à procura de uma vida melhor, e perdeu o contato com a família, que ainda vive no Nordeste, há mais de três decadas. Há dois anos, a sobrinha Raquel deu início à busca, que teve desfecho na manhã desta terça-feira, dia 13. A idosa foi resgatada pela polícia vivendo em condições subumanas com outra idosa, numa casa em Pedra de Guaratiba, junto a mais de 40 cachorros.


Além de muitas fezes no quintal, havia até um pequeno cemitério de animais nos fundos do imóvel, com direito a lápides, onde foram encontradas algumas ossadas de bichos. A idosa dormia em um quarto onde havia uma cama velha e quebrada, apoiada por tijolos e que sequer tinha colchão. O cômodo era dividido com os cachorros. Ela foi encontrada maltrapilha, suja, com um dos pés descalços e com uma imensa cabeleira coberta por um pano.

Com informações do SBT no Rio de Janeiro*

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