INTERNAÇÃO É 65% MENOR QUE NO PICO DA 2ª ONDA EM MANAUS, MAS PACIENTES AINDA LOTAM UTIS

 

(Foto: Divulgação/Secom)

MANAUS – O Amazonas registrou média de 646 internados em leitos clínicos e de UTI nos 13 dias de abril, segundo dados da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde). O número é 65% menor do que o registrado na pior fase da segunda onda, cujas internações tiveram a média de 1.886 entre os dias 21 e 31 de janeiro.

Na segunda-feira, 12, haviam 312 internados em leitos de UTI e 270 em leitos clínicos. Em 28 de janeiro deste ano, quando houve o maior número de internações no pico da segunda onda, os hospitais do Amazonas estavam com 2.132 internados, sendo 631 em leitos de UTI e 1.501 em leitos clínicos.
Internados em janeiro e abril de 2021 (Fonte: FVS)
Profissionais que atuam na linha de frente nos hospitais públicos de Manaus confirmam a redução de internados. O médico infectologista Nelson Barbosa, que atua no Hospital 28 de Agosto e FTM (Fundação de Medicina Tropical), afirma que, de dez leitos de UTI, cinco estão desocupados na FTM.

“Você vê que é uma redução de 50%. Nós não temos nenhum paciente na fila esperando para uma vaga de UTI. Nós chegamos a ter mais 600 pessoas concorrendo para uma vaga (em janeiro de 2021). E olha que no Hospital 28 de Agosto nós temos 64 leitos; no FTM, 10; e no Hospital Delphina Aziz, 100”, disse Barbosa.

Para o pesquisador da Fiocruz Bernardino Albuquerque, a queda no número de internados é reflexo da adoção de medidas restritivas e da vacinação. No entanto, ele alerta para necessidade de “prudência” na flexibilização das medidas e para a intensificação da campanha de vacinação.

De acordo com Albuquerque, o patamar de internados ainda não alcançou aquele registrado entre o intervalo da primeira e segunda onda e, por isso, há necessidade de monitorar. Ele também cita que a queda do número de casos e de óbitos não ocorre de forma abrupta, mas lenta.

Ainda conforme o pesquisador, o tempo internação em leitos de UTI aumentou na segunda onda. Segundo ele, agora, os pacientes graves de Covid-19 são jovens sem comorbidades e que tem maior resistência ao vírus e permanecem mais tempo internados para se recuperar.

“Se a gente for comparar a capacidade de um paciente jovem com um paciente idoso, nós sabemos que o jovem resiste muito mais. Portanto, persiste muito mais. Mesmo que seja em ambiente de UTI, intubado, ele tem uma resistência maior, uma permanência maior”, disse Albuquerque.

Internações diárias

Nota técnica do Atlas ODS Amazonas publicada na segunda-feira, 12, aponta que, com 37 internações diárias em média no Amazonas, os dados da última semana ainda estão 10% acima do que os valores do início de dezembro. Para os pesquisadores, o indicador “não demonstra tendência de desaceleração significativa”.

Henrique Pereira, um dos coordenadores do estudo, afirma que o número se aproxima ao registrado antes da segunda onda, quando o Amazonas registrava média de 34 internações diárias. “Isso é bem próximo ao que tínhamos em dezembro. Fica só 10% acima. Aliás, quase todos os indicadores estão nessa faixa”, disse.

De acordo com o pesquisador, o total de pacientes internados em UTI é o único indicador que aponta número significativamente mais alto que o registrado a primeira semana de dezembro. Pereira disse que a média na semana passada foi de 341 pacientes, enquanto que na primeira semana de dezembro era 171.

Para Pereira, o número alto de internados é característica da segunda onda. “Nós ainda temos o dobro de pacientes com Covid em UTI’s em relação ao que tínhamos em dezembro. É uma característica da segunda onda. Mais pessoas adoecendo de forma grave da doença”, afirmou Pereira.

Em janeiro deste ano, quando houve o pico da segunda onda, a nova variante, a P.1, foi identificada em 91% dos genomas sequenciados no Amazonas, o que a tornou a mais predominante no Estado, segundo Nota Técnica da Fiocruz Amazônia e FVS (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas).

Estudo elaborado por pesquisadores da Fiocruz indicou que adultos infectados pela P.1 têm uma varga viral (quantidade de vírus no corpo) dez vezes maior do que adultos infectados por outras cepas do vírus. Isso contribui para que a variante se espalhe mais rápido.

Patamar estável
De acordo com estudo do Atlas ODS Amazonas, em abril, alguns indicadores começam a se aproximar dos números registrados na primeira semana de dezembro, quando os novos casos, mortes e internações diárias pela doença estavam em patamar estável.

“Houve novamente uma redução de 10% na média de novos casos no estado como um todo nesta última semana em relação a 14 dias atrás, porém, manteve-se a tendência de declínio observada desde fevereiro, ainda que com um viés de estabilidade (manutenção em um patamar)”, diz trecho da nota técnica.

Os pesquisadores afirmam que a média da semana foi de 879 casos por dia que segue igual a 1,3 vezes a mais do que a primeira semana de dezembro. Ainda segundo eles, as internações caíram 12% “retomando a tendência de declínio, porém dentro da faixa considerada de estabilidade”.

Para os pesquisadores, a lenta queda na quantidade de novos casos pode ser um sinal de que a disseminação e de progressão da doença ainda estão em desaceleração, apesar das medidas de flexibilização das medidas de restrição à circulação de pessoas.

“Porém, esse valor assim como o de internações estão estacionados em patamares elevados, sendo, portanto, um alerta para o risco de uma nova aceleração a depender do isolamento social e da vacinação”, afirmam os coordenadores do Atlas ODS Amazonas, em nota técnica.

Medidas de prevenção
Mesmo diante de números que acenam para a volta ao patamar registrado antes da segunda onda, o médico infectologista Nelson Barbosa alerta para a necessidade de manter cuidados. Ele cita a possibilidade de terceira onda e afirma que ainda não se sabe se há nova mutação do vírus.

“Isso daí não é para a gente descuidar das medidas de prevenção. Como o governador liberou restaurantes, shopping, apesar do horário um pouco mais reduzido, o vírus continua circulando. Não significa que nós podemos relaxar. A gente nem sabe se já houve uma nova mutação do vírus”, disse Barbosa.

Bernardino Albuquerque também alerta para a possibilidade uma terceira onda da Covid-19. “Nós sabemos que uma nova mutação do vírus é viável. Se a gente não tiver agilidade, fazer uma campanha de vacinação mais ágil, eficiente e com maior cobertura, temos grande possiblidade de termos terceira onda”, disse.


Fonte: Amazonas Atual

Nenhum comentário