RODRIGO MAIA EM DISCURSO DESPERTA IRA NA ZONA FRANCA DE MANAUS

Presidente da Câmara Rodrigo Maia criticou a Zona Franca de Manaus | Foto: Divulgação

Manaus - Usando a Zona Franca de Manaus (ZFM) de acordo com a conveniência, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), despertou a ira de defensores do modelo ao afirmar que a ZFM “é cara” e “uma distorção que precisa ser corrigida” e atacou a existência da Moto Honda no Polo Industrial de Manaus (PIM).
Representantes da indústria e da política amazonense não perdoaram as declarações nem a posterior tentativa do democrata de se redimir.
O alinhamento do discurso de Maia ao posicionamento camuflado do governo federal em relação ao modelo revela o agravamento da ameaça com a reforma tributária.
As polêmicas declarações do presidente da Câmara foram publicadas, na terça-feira (20), no site Valor Econômico e na tentativa de se redimir concedeu entrevista sobe assunto, nesta quarta, à Rádio Tiradentes. ‘Dançando conforme a música’, Maia já se apresentou em outros momentos como defensor da ZFM, principalmente, quando pré-candidato à presidência da república e candidato à presidência da Câmara, no ano passado.
Declaração infeliz

Polo de Duas Rodas na Zona Franca de Manaus
Polo de Duas Rodas na Zona Franca de Manaus | Foto: Divulgação

A afirmação de Maia de que “não faz o menor sentido a Moto Honda existir em Manaus” também foi alvo de duras críticas. Citando ironicamente o slogan do governo Bolsonaro, o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, rebateu a declaração. “’Mais Brasil, menos Brasília’... Quem define onde aportar o recurso é o investidor, ele decide se faz sentido produzir ou não, se não fizesse sentido a Honda produzir em Manaus, ela não estaria aqui há mais de 40 anos, assim como todas as indústrias que aqui estão instaladas, gerando emprego e riqueza no Amazonas e nos demais Estados do País”.
Montadoras de automóveis

Presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco,
Presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, | Foto: Divulgação

Rebatendo a justificativa de Rodrigo Maia de que não vai fazer menor sentido existir nenhuma indústria automobilística que é “apenas montadora e não de inovação”, Périco defendeu que a indústria instalada no Brasil gera empregos na manufatura de seus produtos. “Há de se entender que a chamada indústria nacional, na verdade, é composta por grandes investimentos multinacionais no território brasileiro. Os produtos são os mesmos produzidos em outros países, com as mesmas tecnologias, inclusive, de manufatura”, explicou.
Sobre a questão “inovação”, o representante da indústria afirmou que atividade industrial e pesquisa não são excludentes e precisam ser desenvolvidas paralelamente. “O Brasil, para se tornar desenvolvedor de tecnologias tem que ter, primeiro, capital intelectual para influenciar, ditar tendências mundiais. Ou seja, precisamos corrigir a deficiência do ensino, somente daqui uns 30 anos, se iniciarmos hoje, poderíamos pensar em realizar algo assim (...) deveríamos fomentar o investimento em manufatura, gerando empregos, enquanto trilhamos o caminho da tecnologia”, disse.
Declaração arriscada, diz Marcelo Ramos
Chamando Maia de “aliado importante e estratégico” do projeto de desenvolvimento regional, o deputado federal Marcelo Ramos (PR), também saiu em defesa da empresa no Polo de Duas Rodas e alertou o presidente da Câmara em relação aos riscos de suas declarações. “[A Moto Honda] anunciou nesse ano valor de investimento de R$ 15 milhões até 2021, declarações que atacam a Zona Franca reprimem o investimento já anunciado de uma empresa consolidada no PIM”, declarou na tribuna da Câmara, acrescentando que a empresa japonesa emprega 6,2 mil pessoas, produz 920 mil motocicletas abastecendo o mercado interno e externo e mantém em Manaus 22 empresas de componentes
Reforma Tributária
O deputado federal José Ricardo (PT) criticou as declarações de Maia e afirmou que a bancada do Amazonas tem se articulado para apresentar emendas em garantia das vantagens do modelo econômico amazonense. “É lamentável essa posição do presidente da câmara, ou ele está de má fé contra a Zona Franca e a favor do governo Bolsonaro, que ele apoia na verdade, o governo Bolsonaro é contra a Zona Franca, o ministro da economia já tomou várias medidas que prejudicam vários setores da economia do Amazonas e, agora, a reforma tributária deixa de fora a Zona Franca”.
No Senado, Maia também é visto, agora, como um dos conspiradores contra a ZFM. “Tenho certeza absoluta que há em trâmite uma conspiração contra a Zona Franca de Manaus (...) Há em curso um complô para acabar com a Zona Franca com a reforma tributária, vai ter que passar por cima da gente, nós não vamos deixar que isso aconteça de forma alguma”, afirmou o senador Plínio Valério (PSDB).
O parlamentar lembrou que essa não é a primeira vez que Maia defende posições contrárias à Zona Franca como quando classificou como “boa ideia” uma sugestão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. “Essa ‘boa ideia’ que o Maia chamou era de tirar da Constituição todo e qualquer assunto referente a tributos, ou seja, a Zona Franca está garantida na constituição, se tirar o tratamento tributário diferenciado, morre”.

*Em tempo

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