FLAMENGO RESGATA O PRAZER DO BRASILEIRO DE ASSISTIR FUTEBOL
Ao se assistir ao Flamengo no estádio, é perceptível que não
há nada de aleatório no time. Os movimentos e posicionamentos fazem sentido, as
jogadas são executadas como se ensaiadas fossem, os jogadores sabem todos o que
têm de fazer e são hoje melhores do que eram há dois, três meses. O futebol é
intenso, empolgante, vertiginoso. É o efeito do técnico Jorge Jesus.
Essa é
a explicação pragmática que se atém ao que faz uma equipe de futebol funcionar
(ou não). Há outra análise pertinente a partir daí que é: o que esta equipe
representa na história recente do futebol brasileiro e se deixará um legado.
Conversei
sobre isso com o colega PVC, uma das nossas melhores cabeças para o assunto, em
um Maracanã em êxtase. Ele me lembrou o Santos de Neymar como um time tão móvel
no ataque quanto esse do Flamengo. Eu lembrei do Cruzeiro de 2013/2014 como um
time tão dominante no Brasileiro, e também uma máquina ofensiva.
Jogadores do Flamengo abraçando Vitinho - Foto: Marcelo Cortes |
Difícil
colocar marcas de tempo, anos, década. Mas a verdade é que não víamos um time
que nos desse prazer como esse Flamengo há um longo período.
E por
que? Não nos faltam, nem faltavam, talentos. Mas estamos estagnados, incapazes
de repetir o futebol belo de um passado distante porque já não cabia em um
esporte que se modernizou e igualmente incapazes de reproduzir a nova beleza
que se criou lá fora. Estamos como artistas decadentes olhando um concerto de
um novo talento da calçada.
E
então um português veio nos mostrar -e antes um argentino no Santos com um
elenco inferior, diga-se – que podemos voltar a sentir prazer no futebol. Que
futebol não é saber sofrer é saber desfrutar.
Veja o
jogo diante do Galo. Havia ali uma linha de cinco defensores atrás, outra de
mais quatro à frente e um atacante. Em dado momento, o Atlético-MG meteu 11 na
área. Justo se assim lhe apetece.
O
Flamengo trabalhava a bola, nenhum chuveirinho daqueles de qualquer jeito. O
passe da ponta era para o canto da área, a triangulação pela lateral, até achar
o espaço preciso, como quem desenha ângulos com jogadores nos lugares de
esquadros e compassos.
Esse
mecanismo era em favor desse talento individual que tanto produzimos e vendemos
para fora. Vitinho acha um drible e um chute, um garoto de 17 anos mata o jogo,
e Arão ganha todas as bolas com a facilidade de quem joga com crianças porque
está sempre no lugar certo.
*Rodrigo Matos
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