FLAMENGO E TORCIDA SE REENCONTRAM HOJE: OS PRÓXIMOS PASSOS E O IMPACTO DE 497 DIAS DE SEPARAÇÃO

Estádio Mané Garrincha será palco do retorno da torcida do Flamengo — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

 

Foram 497 dias de espera até o reencontro, que não será total e acontecerá longe de casa. Mas nesta quarta-feira o Flamengo jogará novamente com sua torcida por perto. A partida contra o Defensa y Justicia, pelas oitavas de final da Libertadores, marcará o primeiro jogo da equipe novamente com público desde o fechamento dos estádios devido à pandemia de coronavírus.

Até o reencontro, o caminho não foi simples. O palco da partida atesta isso: ainda sem liberação para jogar no Maracanã, o Flamengo levou o jogo para o Mané Garrincha, em Brasília, onde o governo local divulgou um decreto liberando até 25% da capacidade do estádio – cerca de R$ 18 mil pessoas.

 

Este é o primeiro passo de um processo que a diretoria do Flamengo vem travando há alguns meses. Vice-presidentes como Marcos Braz (futebol), Luiz Eduardo Baptista, o Bap (relações externas) e Rodrigo Dunshee de Abranches (geral e jurídico) se pronunciaram publicamente diversas vezes defendendo o retorno do público.

A pandemia de coronavírus no Brasil ainda não está controlada e há temores sobre a nova variante delta. Por outro lado, a vacinação vem avançando no Rio de Janeiro, onde pessoas na faixa dos 30 anos já começaram a receber a primeira dose. Foi justamente a falta de um acordo com a Prefeitura carioca que motivou a ida a Brasília.

A busca pela liberação

No dia 9 de julho, a Prefeitura liberou 10% de público no Maracanã para a final da Copa América, entre Brasil e Argentina. A autorização das autoridades gerou desconforto no Flamengo, que já tivera solicitação negada na final do Carioca.

- Há um mês, o risco no Rio saiu de muito alto para alto. Pela legislação, podia ter jogo de futebol com 10% de público. Com base nisso, o Flamengo trabalhou junto à Prefeitura para que liberasse para o Flamengo também. Não dá para ter dois pesos e duas medidas – explicou Dunshee ao ge.

 

Depois que a Conmebol liberou a presença de público nas oitavas de final da Libertadores, o Flamengo enviou protocolo à Secretaria Municipal de Saúde (SMS), basicamente o mesmo que o usado pela Conmebol na Copa América, com pequenas alterações. A SMS retornou pedindo alguns ajustes, mas o clube segue confiante de que em breve conseguirá a liberação para jogar no Maracanã.

- O índice, agora, caiu de alto para moderado. É o índice mais baixo da fase pandêmica na legislação atual do município. Agora, já pode ter pelo menos 20% do público. O Flamengo está trabalhando com isso, mas quando não houve uma sinalização positiva (para o Maracanã), a gente começou a trabalhar Brasília. Entendemos que os índices de queda são públicos e notórios. Todas as atividades já voltaram parcialmente – completou Dunshee.

Prejuízo de até R$ 150 milhões
 

Do ponto de vista financeiro, a necessidade do Flamengo em voltar a ter público nos jogos fica latente nos balanços divulgados. No balancete do primeiro trimestre de 2021, o mais recente publicado, o clube estimava um prejuízo entre R$ 120 milhões e R$ 150 milhões com bilheteria e sócio-torcedor desde o fechamento dos estádios.

Somente em 2020, o vice-presidente de finanças, Rodrigo Tostes, estima que o clube deixou de ganhar R$ 110 milhões.

Bilheteria e sócio-torcedor são duas das principais fontes de receita do Flamengo. Sem elas, a readequação financeira do clube chegou ao futebol. O sócio-torcedor, por exemplo, tem hoje cerca de 53 mil membros - em 2019, o programa tinha pouco mais de 120 mil pessoas.

O orçamento traçado para 2021 previa originalmente uma receita de R$ 100 milhões com bilheteria, com retomada de público em abril. Com a segunda onda de Covid no início do ano, o documento precisou ser readequado, a expectativa de torcida foi para setembro.

- Estamos fazendo testes, dando uma colaboração para a sociedade. Estamos super sacrificados pela falta de público. A margem de lucro no futebol é muito apertada. Na medida em que você perde R$ 150 milhões por ano, você entra em déficit. Não podemos matar o futebol brasileiro. Eu acho que no Rio de Janeiro faltou esse olhar para o futebol, que também é uma atividade geradora de emprego – argumentou Dunshee.


O orçamento também deixou clara a necessidade de manter a saúde econômica através de vendas de jogadores. A saída de Gerson, vendido ao Olympique de Marselha por 25 milhões de euros em junho, foi o maior exemplo disso. Em outro cenário, seria possível manter o volante, um dos principais jogadores do elenco.


A diferença de receita no Flamengo


Primeiro trimestre de 2021Primeiro trimestre de 2020
Bilheteria0R$ 21,8 milhões
Estádio0R$ 4,9 milhões
Sócio-torcedorR$ 9,6 milhõesR$ 21,3 milhões
TotalR$ 9,6 milhõesR$ 48,1 milhões


Além disso, o Flamengo precisou apertar o freio nas contratações. Protagonista no mercado em 2019 e 2020, o clube contratou apenas o zagueiro Bruno Viana até momento, por empréstimo. Precisando reforçar o grupo, a diretoria negocia empréstimos gratuitos do volante Thiago Mendes e do atacante Kenedy, mas Marcos Braz já deixou claro que não há dinheiro para gastar.

- O Flamengo não vai comprar nenhum jogador, pretendemos empréstimos e, se possível, sem custos financeiros. Isso nos coloca de maneira mais frágil na negociação. Tem de ter paciência. A parte financeira está alinhada, mas longe de estar com o conforto de tempos atrás – afirmou Braz, em entrevista coletiva.

 Em campo, aproveitamento cai para 69,5%
O impacto da ausência da torcida também foi sentido em campo. Principalmente nos primeiros jogos de Maracanã vazio, os jogadores deixaram claro que o silêncio nas arquibancadas afetou o desempenho. O fator casa do Flamengo se diluiu.

Desde o fechamento dos estádios, o Flamengo fez 47 partidas como mandante, com aproveitamento de 69,5%: 30 vitórias, oito empates e nove derrotas. O levantamento é do Espião Estatístico.

Para ter uma base de comparação, o Espião Estatístico analisou os 47 jogos anteriores, ainda com público. Aqui, vale um adendo: este período corresponde a boa parte da passagem de Jorge Jesus no comando da equipe. Neste recorte, o aproveitamento como mandante foi bem maior: 84,3%, com 38 vitórias, cinco empates e quatro derrotas.

 

O Flamengo como mandante antes e depois do fechamento dos estádios


47 jogos antes47 jogos depois
Vitórias3830
Empates58
Derrotas49
Aproveitamento84,3%69,5%

 

O último jogo do Flamengo com torcida, aliás, foi também na Libertadores. Com 63.426 presentes no Maracanã, a equipe venceu o Barcelona de Guayaquil por 3 a 0, gols de Gustavo Henrique, Bruno Henrique e Gabigol. Do time que entrou em campo naquela partida, dois jogadores deixaram o clube: o lateral-direito Rafinha e o volante Gerson, além do técnico Jorge Jesus. 


*GE

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